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ESTUDOS- O Caminho da Escrita (Sho Do ou Shu Fa)

Atualizado: 6 de jul. de 2018

M. Ângela Andrade

A caligrafia do Extremo Oriente ou o Caminho da Escrita (Sho Do) é uma arte dotada de características peculiares e surpreendentes. Surgiu na China e ali floresceu há muitos séculos e penetrou também outros países da Ásia, principalmente Japão, e mais tarde chegou ao Ocidente. Uma vez que o termo caligrafia entre nós denota apenas o componente estético da arte da escrita, à beleza, ele é limitado para expressar tudo o que envolve a prática do Caminho da Escrita. Das características relacionadas à prática em si e aos modos possíveis de desenvolvê-la destaco três: o material, a atitude corporal e a atitude mental.

A prática inicialmente requer o uso dos chamados quatro tesouros: o papel, o pincel, o carvão (sumi) e a pedra (suzuri). Só depois de adquirir relativo domínio desse material é que se pode eventualmente substituir alguns desses tesouros. Utilizamos papel chinês ou japonês ou ainda papel jornal para rascunho. Quanto ao pincel, usamos o chinês ou o japonês, e a tinta deve ser preparada com o carvão (sumi) que é um bastão de pigmento de nanquim. Friccionando o carvão no recipiente onde se coloca a água (suzuri) gradativamente obtemos a tinta nanquim.

Como trabalhar com este material, ou seja, qual método se requer? Esta é uma pergunta sobre a prática. Cada praticante vai descobrindo como se realiza esta prática tão única no campo das artes em geral. Mas, podemos antecipar que o gesto é espontâneo e deliberado ao mesmo tempo. Assim, não se corrige um traço sequer, e, o principal, corpo e mente estão integrados, formando uma unidade. Ao prepararmos a tinta, soltamos o pensamento, as preocupações. Neste momento há concentração, um estado meditativo, de abertura para o que realizaremos.

Al Huang, mestre de T’ai Chi e caligrafia, reúne as duas artes indicando a atitude mental requerida para ambas.


Seguro o pincel com o punho T’ai Chi – o punho vazio aberto que não é tenso nem frouxo. O braço que segura o pincel é um braço em repouso, não um braço rígido, teso. Ao mergulhar o pincel na tinta, todos os pelos devem amolecer formando uma ponta. É como se um milhão de pensamentos diferentes se concentrassem num ponto central....Quando o pincel está pronto, devemos segurá-lo à nossa frente, na vertical sobre o papel. O cabo do pincel corresponde à nossa espinha. É reto, oco e flexível e é o centro do movimento.


Sendo esta uma das poucas obras que aproximam estas artes, o T’ai Chi e o Sho Do, recomendo aos que desejam se aprofundar em como combinam leveza e concentração. Três pontos de seguir o Caminho da Escrita devem ser lembrados:

  1. Absorver com plena atenção a forma dos caracteres, copiando-os dos textos filosóficos ou literários.

  2. Colocar o sentido dos caracteres no plano secundário e ater-se à forma e/ou aos estilos.

  3. Transcender a forma para desenvolver o estilo.

Os mestres calígrafos impulsionam o Sho Do: neles procuramos captar a energia vital que os anima, o cultivo espiritual e o despertar que atingiram já que a maioria destes artistas era ou é monge budista ou taoísta realizado, e ainda poetas dedicados a expressar a maravilha do agora. Um artista e poeta contemporâneo que criou caminhos possíveis para a arte do traço e do gesto fundamentadas no Caminho da Escrita é Kazuaki Tanahashi. Em sua obra poética e lúdica sobre a arte de um só traço que pratica lemos,

Há algo de relaxante nas coisas sobre as quais

não temos pleno controle. É por isso que um pincel

é mais apaziguante do que uma caneta esferográfica.

fonte:

Al Chung-liang Huang, Expansão e Recolhimento: A Essência do T’ai Chi. Summus Ed. Pág. 172

Kazuaki Tanahashi. O Coração do Pincel. Ed. Bertrand. Pág. 135


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