Eu nasci e me criei nas redondezas da Cúpula Genbaku em Hiroshima, onde a bomba atômica caiu há 73 anos. Meu pai é filho de um hibakusya, ou seja vítima da bomba atômica. Meu avô perdeu sua primeira esposa por causa da bomba, pois eles moravam do lado da Cúpula Genbaku. Meu avô sobreviveu porque ele tinha uma amante que morava no outro bairro, a 3 km da Cúpula Genbaku, e por isso meu avô conseguiu escapar da bomba... É uma situação complicada, mas seja como for, assim ele sobreviveu no meio do catástrofe.
Naquele dia, 06 de agosto de 1945, na cidade de Hiroshima, aproximadamente dez soldados americanos que haviam sido capturados foram vítimas de bomba nuclear mandada da sua própria terra. Meu avô, ao encontrar um desses cadáveres na rua, o enterrou no túmulo coletivo que ainda existe no Memorial Parque da Paz. Ele deve ter tomado uma chuva de críticas do povo de Hiroshima, que perdeu suas famílias no instante em que a bomba foi lançada. Não sei porque ele ousou enterrá-lo, mas tenho certeza de que esta ousadia dele posteriormente se tornou uma ponte entre os hibakusya e os Estados Unidos.
No dia 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos ficaram estarrecidos quando o terrorismo matou mais de 3 mil pessoas. O presidente de então, George W. Bush, deu o início à tragédia incessante nos países árabes, proclamando “justiça”. E, naquele momento, quase ninguém pôde contrariar esta opinião supostamente representativa da maioria.
Mas, alguns dias depois do ataque terrorista, uma monja japonesa chamada Jakucho Setouchi apareceu num programa da NHK, emissora de televisão japonesa, e citou um trecho do sutra do Buda.
“Neste mundo, o ódio jamais é vencido pelo ódio, o ódio só se extingue através de deixá-lo. Esta é a eterna verdade.”
Depois da Segunda Guerra Mundial, quando o Tratado de São Francisco foi assinado, o Sri Lanka, sendo país budista, abandonou seu direto à indenização, proferindo essa frase do Buda.
Esta frase pode soar fraca demais para ser uma verdade, mas pensando bem, é difícil de cumpri-la e talvez seja a única maneira de pacificar o mundo.
Na verdade, comecei a estudar o budismo porque fiquei impressionado com estas palavras do Buda, ao ouvi-las da monja. Naquele momento, nem tinha menor ideia de vir ao Brasil. Olhando a situação do mundo atual, o ódio continua a se alimentar de ódio, crescendo e cobrindo o planeta.
O ódio é transmissivo e acumulativo. Ele pode se espalhar pelo mundo inteiro, não se acaba sozinho.
Largar o ódio não é apenas perdoar alguém. Muito além disso, é um desafio acabar com esse ódio que se sentiu no passado, para não espalhá-lo pelo mundo inteiro, transformando-o no inferno. Isso seria o ideal chamado Nirvana. Gostaríamos de saborear este ensinamento que o Buda Shakamuni defendeu há cerca de 2500 anos, nesta ocasião de Hanamatsuri.
Shun-nen
تعليقات