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COTIDIANO- Nos passos do Shin

M. Angela Andrade


O discípulo pergunta ao mestre: Mestre, o que é o inferno? O mestre não responde. Ele fica irritado e lhe diz que não está cumprindo seu papel de mestre que é orientar o discípulo. O mestre permanece calado. O discípulo vai ficando cada vez mais irritado e chega a tal ponto sua ira que faz menção de pegar a espada, já enlouquecido. Neste instante o mestre diz: aí está o inferno. O discípulo então cai em si e, compreendendo, faz reverência ao mestre, que lhe diz: aí está o paraíso.


Li uma versão sufi da anedota acima em que só mudaram as denominações e as roupagens. Estórias como estas revelam o caráter ímpar dos mitos: transmitir verdades universais que vão assumindo diferentes contornos em cada cultura em que são absorvidas. Poderíamos pensar que se trata de pura e simples apropriação ou plágio. A meu ver, neste caso não importa tanto a origem como sua transmissão. O fato é que esta estória em particular fala, entre outras coisas, dessa relação difícil e complexa entre mestre e discípulo. A historieta expõe a habilidade de um mestre que criou a oportunidade para que o discípulo vivenciasse sua passionalidade. Ao gerar condições para que sua paixão (bonno) emergisse e se revelasse claramente, o discípulo pôde enxergá-la e reconhecê-la. Só assim ele pôde ver a turbulência interna de sua ira, e suas prováveis consequências. E, ao reconhecê-la, a mudança é imediata, ele desperta e pode também conhecer o céu, ou as terras de Budas. Sua gratidão desvela o aprendizado.

Na escola Shin, não se dá ênfase a qualquer reverência ao mestre, tomado como guru, um elo devocional particular e forte que ocorre em algumas tradições orientais. No entanto, quando cada praticante busca um aprofundamento de aspectos do ensinamento que ficaram na superfície é importante que a confiança no instrutor esteja abalizada. Deste modo aquele que ocupa o lugar de instrutor pode apontar para o Buda Amida e o passar o ensinamento conforme sua competência e vivência. Ocasiões como as palestras e grupos de estudo são oportunidades de estreitar o vínculo entre instrutores e o adepto para quem conhecer o Darma é tão urgente como apagar um fogo que consumisse seus cabelos.




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